Esta é uma descrição objetiva de cenário. Podemos observar muito mais do que uma simples enumeração de plantas e adornos, pois o observador faz um inventário de detalhes, entre matérias, contornos e cores, extenso em pormenores: “atravessando-se o jardim por entre a simetria dos canteiros e limosas estátuas (...) e trombones de faiança azul-nanquim”. Dispensa o uso da subjetividade, atravessando os espaços e registrando-os com fidelidade fotográfica.
Há um pôr-do-sol de primavera e uma velha casa abandonada. Está em ruínas.
A velha casa não mais abriga vidas em seu interior. Tudo é passado. Tudo é lembrança. Hoje, apenas almas juvenis brincam despreocupadas e felizes entre suas paredes trêmulas.
Em seu chão, despido da madeira polida que a cobriam, brotam ervas daninhas. Entre a vegetação que busca minimizar as doces recordações do passado, surge a figura amarela e suave da margarida, flor-mulher. As nuanças de suas cores sorriem e denunciam lembranças de seus ocupantes.
A velha casa está em ruínas. Pássaros saltitam e gorjeiam nas amuradas que a cercam. Seus trinados são melodias no altar do tempo à espera de redentoras orações. Raízes vorazes de grandes árvores infiltraram-se entre as pedras do alicerce e abalam suas estruturas.
Agoniza a velha casa. Agora, somente imagens desfilam, ao longo das noites. As janelas são bocas escancaradas. A casa velha em ruínas clama por vozes e movimentos...
(Geraldo M. de Carvalho)
Esta é uma descrição subjetiva do cenário. O autor enquadra de forma lírica uma casa em ruínas. Apresenta o seu ponto de vista subjetivo e nostálgico em relação ao cenário, concede metáforas e impressões sinestésicas aos espaços que sua sensibilidade percorre: “paredes trêmulas”, “melodias no altar do tempo”, “as janelas são boas escancaradas”.
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