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Inez Nerez

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Primo Basílio, de Eça de Queirós


Publicado em 1878, O Primo Basílio é um dos mais famosos "romances de tese" de Eça de Queirós. 

Narrado em 3ª pessoa, apresenta um narrador onisciente que não consegue distanciar-se por completo de suas personagens, o que se caracteriza pela sua onisciência pelo emprego do discurso livre indireto. Há uma intimidade-identificação entre quem narra e quem vive a história.

Eça de Queirós reproduz os acontecimentos, os tipos e os comportamentos humanos das personagens de forma fiel. Há um abuso do recurso da descrição e um exagero no uso de adjetivos. A ironia é também intensamente presente neste romance. 

A história de passa na segunda metade do século XIX.



O espaço é Lisboa, o Alentejo, o Paraíso e Paris. 
Estes últimos lugares não são mencionados diretamente pelo narrador, mas apenas referidos.

Lisboa é o cenário da crítica de Eça de Queirós, é por onde transitam as personagens e onde elas expõem suas condições sócio-econômicas e históricas, é a sociedade portuguesa. O Alentejo é o espaço que rouba Jorge de Luísa, deixando-a num marasmo sem fim. Paris é o cenário que devolve Basílio à Luísa, trazendo alegria e a novidade de uma vida de prazeres e aventuras. A casa é o espaço privilegiado do romance, onde se passam as cenas entre Luísa e Juliana. 

O Paraíso serve de contraponto da vida doméstica e do mundo das alcovas.

As personagens de O Primo Basílio podem ser consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade daquela sociedade.


Influenciado pela fase realista de Balzac e por Flaubert, Eça de Queirós faz, nesta etapa de sua carreira, um inquérito da vida portuguesa.


A obra combate as principais instituições: a Burguesia, a Monarquia e a Igreja. Critica a cidade, a fim de sondar e analisar as mesmas mazelas, desta vez na capital: para tanto, enfoca um lar burguês aparentemente feliz e perfeito mas com bases falsas e igualmente podres.


A criação dessas personagens denuncia e acentua o compromisso de O primo Basílio com o seu tempo: a obra deve funcionar como arma de combate social. A burguesia - principal consumidora dos romances nessa época - deveria ver-se no romance e nele encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento. O autor critica veementemente o comportamento medíocre da família lisboeta de classe média e usa o adultério como pano de fundo.



Enredo

Os protagonistas dessa obra são Jorge que além de ser um bem-sucedido engenheiro, é funcionário de um ministério, e Luísa, uma moça romântica e sonhadora. Formam o típico casal burguês de classe média da sociedade lisboeta do século XIX. Para completar a felicidade do casal faltavam-lhe apenas um filho.

Havia um grupo de amigos que freqüentava sempre a casa do casal, como era chamada a residência pela vizinhança pobre. Este grupo era constituído por D. Felicidade, a beata que sofria de crises de gasosas, que morria de amores pelo Conselheiro; Sebastião, amigo íntimo de Jorge; Conselheiro Acácio, o bem letrado; Ernestinho, e as empregadas Joana, que era assanhada e namoradeira, e Juliana que era revoltada, invejosa, despeitada e amarga, responsável pelo conflito do romance.

Luísa ainda mantém amizade com uma antiga colega, Leopoldina - chamada a "Pão-e-Queijo" por suas contínuas traições e adultérios, o que não é bem visto pelo marido. Por conta disso, Juliana, a empregada maldosa, espera apenas uma oportunidade para apanhar a patroa "em flagrante".

A felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge viaja a trabalho para Alentejo afim de fiscalizar suas minas. Após a partida, Luísa fica enfadada sem ter o que fazer, no marasmo e em uma melancolia pela ausência do marido. É nesse meio-tempo que Basílio chega do exterior. Ele e Luísa haviam namorado antes dela conhecer Jorge.

Conquistador e "bon vivant", o primo não leva muito tempo para reconquistar o amor de Luísa, agora transformado em ardente paixão e isso faz com que Luísa pratique o adultério.

Os encontros entre os dois se sucedem, há troca de cartas de amor. Uma delas é interceptada por Juliana, graças aos conselhos "sábios" de tia Vitória. A empregada começa chantagear a patroa, Luísa. Com isso, Luísa se transforma em escrava de Juliana, e começa a adoecer. Por causa de sua frágil constituição, os maus tratos que sofre de Juliana logo lhe tiram o ânimo, minando-lhe a saúde. Basílio foge covardemente, deixando-a sem apoio.

Jorge volta e de nada desconfia, pois Luísa satisfaz todos os caprichos da criada, enquanto tenta todas as soluções possíveis, até que encontra a ajuda desinteressada e pronta de Sebastião, o qual, armando uma cilada para Juliana, intentando levá-la presa, acaba por provocar-lhe um ataque e a morte.

É um novo tempo para Luísa, cercada do carinho de Jorge, de Joana e da nova empregada, porém, tarde demais: enfraquecida pela vida que tivera de suportar sob a tirania de Juliana, é acometida por uma violenta febre. Em delírio, conta a Jorge seu adultério, fazendo-o entrar em desespero e, no entanto, perdoar-lhe a traição. De nada adiantam os carinhos e cuidados do marido e dos amigos de que foi cercada, nem o zelo médico que chegou a raspar-lhe os longos cabelos. Luísa morre e o lar antes "formalmente feliz", se desfaz.

O romance termina com a volta de Basílio e seu cinismo, ao saber da morte da amante, quando comenta com um amigo que se soubesse que Luísa havia morrido teria trazido Alphonsine, a amante que tem em Paris.









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